quarta-feira, 14 de março de 2012

Procissão do Encontro



Uma das mais importantes do ciclo quaresmal, a Procissão do Encontro é organizada pela Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, que teve sua origem numa dissidência da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, é uma das mais antigas da cidade e por muitos anos teve seu itinerário restrito apenas às redondezas da capela.


A imagem de Bom Jesus saía da Igreja de Santo Antônio e a de Nossa Senhora das Dores saía da lateral da Capela dos Navegantes pelo terreno descampado pertencente à irmandade, onde hoje está situado a sede da CNBB. Então realizavam o encontro das duas imagens na Praça e retornavam para a Igreja onde eram entoados os sacros motetos, a cerimônia do Calvário e a descida do corpo de Jesus Cristo da Cruz, que na sexta-feira santa percorreria as ruas da cidade em Procissão. Com o fim da Procissão dos Passos há mais de 50 anos, a Irmandade começa a realizar o itinerário que hoje é conhecido.


Os andores pesam em torno de 600 quilos e as imagens vindas de Portugal têm em torno de 200 anos, mesmo tempo da Irmandade e para carregá-las, cerca de 15 homens utilizando os trajes da Irmandade. Antigamente, eram carregadas por estivadores,  que na sua maioria eram membros da irmandade.

A procissão da Fugida dá inicio à celebração onde o andor de Bom Jesus parte envolto em um tecido roxo da Igreja de Santo Antônio, em direção à Igreja da Sé, e simboliza a fuga de Jesus Cristo para o Monte das Oliveiras. Na Catedral da Sé, o andor não é descoberto até que se façam as orações e os fiéis deixem a Igreja. Na manhã do dia seguinte, o andor é decorado para a procissão do Encontro.

Paralelamente a isso, o andor de Nossa Senhora das Dores se prepara na Igreja de Santo Antônio, de onde sairá em procissão em direção ao Largo do Carmo. Nesse mesmo horário acontece uma missa na Igreja da Sé.

No Largo do Carmo, o andor com a imagem de Bom Jesus dos Navegantes é colocado em frente à agência dos Correios, na João Lisboa, enquanto o de Nossa Senhora das Dores fica na Rua da Paz. Na esquina é montado um púlpito e o Padre que acompanha a procissão sob um Pálio, realiza o tradicional sermão lembrando o significado do caminho de Jesus para o Calvário e a importância do encontro com Nossa Senhora, simbolizado nesse ato.

Antes de conduzirem a imagem de Bom Jesus de volta à Capela dos Navegantes, os membros da Irmandade simbolizam as três quedas de Jesus a caminho do Calvário, na Praça Santo Antônio. Na Capela as imagens são colocadas nas laterais do altar, enquanto os fiéis fazem as orações e executam cânticos religiosos. O ritual se encerra.

Acompanhando a procissão de Bom Jesus dos Navegantes, segue uma figura tradicional em eventos religiosos da Quaresma, conhecida por Verônica, que representa a mulher que enxugou o rosto de Jesus, em uma das quedas em direção ao Calvário, para a crucificação.  Essa figura é representada por uma cantora “ou por uma mulher com bastante experiência religiosa”.

A conservação dessa importante tradição religiosa devemos, sobretudo, a uma figura emblemática do catolicismo maranhense chamado Augusto Aranha. Foi ele que, à frente da Irmandade (de 1920 até o final da década de 1990), manteve os rituais tradicionais da Irmandade, hoje conduzida pela sua filha Nizete Aranha Medeiros.

Em 2012, a tradição de mais de duzentos anos será quebrada por conta do caos no trânsito da cidade e pela dificuldade de locomoção das imagens em horário comercial. A irmandade é forçada a realizar as procissões da Fugida, no sábado (24/03); e Encontro, no domingo (25/03).



Capela Bom Jesus dos Navegantes


A capela do Senhor Bom Jesus dos Navegantes é uma construção do século XVII, realizada pelo Jesuíta Frei Cristovão de Lisboa. Este, ao chegar em São Luís, encontrou em ruínas o Convento de São Francisco, obra dos capuchinhos franceses, que tiveram que o abandonar, quando de sua expulsão. Verificando a importância do convento, o referido jesuíta resolve então edificar um novo, com o nome de convento de Santa Margarida, e junto a este, reconstituiu também, a capelinha onde celebravam seus ofícios.

Além da sua importância arquitetônica, convém ressaltar que foi do coro da mesma que ficava de frente para o mar, que o grande jesuíta Padre Antônio Vieira, em 1654, proferiu seu célebre “Sermão aos Peixes”, o qual caracterizava,  através de parábolas, os homens abastados da época.

Depois da construção da Igreja de Santo Antônio, a primitiva capela foi doada à  irmandade do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, que até hoje a mantém. Nela são realizadas as tradicionais solenidades da Quaresma e nela repousam os restos mortais de Ana Jansen, além de ter sido o local da primeira exposição de arte sacra no Maranhão na década de 60.


Por Henrique Machado

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