terça-feira, 28 de maio de 2013

O sono dos justos

Sexta-feira, 17 de maio, ao navegar na internet em busca de notícias de bastidores da política nacional me deparei com várias publicações com imagens de diversos deputados federais cochilando durante a exaustiva sessão da Câmara dos Deputados que apreciava a Medida Provisória dos Portos, aprovada depois de 40 horas de discussão. Entre eles, identifiquei um professor maranhense que não estava em sala de aula. Vestido de terno e gravata, cabelos brancos, reflexo dos seus 64 anos de vida e 44 anos de militância política, Professor Sétimo estava lá, no Plenário da Câmara, exausto.

Vendo as fotos nos sites e jornais, não vemos o contexto de onde saíram. Penso que atrás de cada foto maldosamente existe uma vontade da mídia de reafirmar que os deputados federais não trabalham e que, uma vez chamados, dormem no serviço. Mas ele não estava só. Havia quase uma dezena de parlamentares dormindo e a maioria deles muito mais novos do que o Professor, como os deputados Roberto Policarpo, do PT do Distrito Federal, e Luciana Santos, do PCdoB de Pernambuco. Eles legislam por todos nós, independente de ser ou não o seu eleitor. Por aqueles que os conhecem e por aqueles que não os conhecem. Eles estão ali porque nos representam.
Volto ao deputado que eu conheço. Fui então rastrear pelos sites e jornais o que teria sido o dia daquele atuante parlamentar que conheci em 2008 na Comissão de Educação e Cultura da Câmara, em seu primeiro mandato, para entender, antes de criticá-lo, não caindo no senso comum de afirmar "É um dorminhoco".

Descobri então que o Professor tinha saído de carro de Timon, sua cidade natal, às 3hs da madrugada para estar em São Luís, pela manhã, para participar da solenidade de entrega de viaturas da Secretaria de Segurança. De lá seguiu diretamente para o Aeroporto Cunha Machado, para pegar o voo que iria trazê-lo para Brasília, e que ao desembarcar seguiria diretamente para o Plenário da Câmara, para aquela que seria a sessão mais longa do Congresso Nacional nos últimos tempos. 

Fiquei mais curioso ainda e fui pesquisar a biografia daquele discreto parlamentar, que ao contrário da maioria, não é nenhum pavão, não vive usando da tribuna para aparecer na TV Câmara e não vive frequentando a mídia, e nem por isso é menos atuante.

O velho professor ingressou na vida pública ainda jovem, aos 16 anos de idade, ao se eleger vereador do município de Timon, nos idos dos anos 70. Desde então se dedicou a causa pública em defesa do povo de sua terra.

Oriundo de família humilde (seu pai era sapateiro), abraçou os estudos e a causa popular ao fundar mais de 100 entidades representativas do movimento comunitário (associações de moradores e entidades similares). A Federação das Associações de Moradores e Conselhos Comunitários de Timon (FAMCC) foi uma das grandes entidades que fundou e dirigiu por três mandatos consecutivos. Na política, exerceu o cargo de vereador na Câmara Municipal de Timon por cinco mandatos, tendo exercido por uma vez a presidência daquele Legislativo. 

Um ardoroso defensor do municipalismo, sempre se pautou no tripé da fidelidade, seriedade e honestidade. Respeitado pelos adversários e admirado pelos amigos, ele é um dos fundadores históricos do MDB no Estado do Maranhão, que depois veio a ser recriado com a sigla de PMDB. Em todos os momentos da vida política do seu partido, Sétimo teve uma participação importante ao lado do grande “Senhor Diretas” Ulysses Guimarães na luta pela redemocratização do Brasil.

Chegou à Câmara dos Deputados em 2007, e hoje, em seu segundo mandato, é tido na Casa como um grande articulador. 

Professor Sétimo Waquim tem longa trajetória política, ao longo de 44 anos de intenso trabalho junto ao povo maranhense. Não será um cochilinho que irá macular sua história, em um artifício legal e regimental da oposição para procrastinar a votação do texto final da matéria em pauta. A missão, embora cansativa, foi cumprida. 

Àqueles que criticam o Professor por este ato, causado pelo excesso de trabalho, o fazem por não conhecerem sua constante luta em prol da educação brasileira, fica para a reflexão a célebre frase de Proust: "O sono é como uma outra casa que poderíamos ter, e onde, deixando a nossa, iríamos dormir".  

Por Henrique Machado

Um comentário:

  1. Quanta ausência de conhecimento “do ente” respeitável que tem exegese contrária a postagem em epígrafe. Sai na frente em defesa do Congresso e do Senado, basta acompanhar as postagens. Tem-se de ficar atento as armadilhas dos incautos.

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